" (...) Planetas em Escorpião buscam estabelecer segurança emocional num mundo ameaçador. Consequentemente a associação de ciúme e paixão. Planetas colocados neste signo tendem a ser ansiosos face ao desconhecido e por conseguinte desejam deter controle sobre tudo, o que facilmente se torna uma característica obsessiva. Há um secretismo e compulsividade que se escondem debaixo de uma forte fachada de autocontrole. O conhecimento instintivo, os talentos ocultos e as habilidades psicológicas manifestam-se em Escorpião, porque o carácter enfatiza os demónios emocionais internos e a maioria das pessoas escolhe ignorá-los." - lacquaproject
Na minha próxima encarnação vou tentar nascer balança. Equilibradinha, equilibradinha...
Foto de Rodrigo Siqueira -incards.com.br
A cidade estava um caos naquela tarde. As filas de trânsito intermináveis, o barulho, o stresse das correrias desenfreadas para chegar finalmente a casa, depois de um dia de desgastante trabalho. As pessoas estavam de cara fechada, cansadas, introspectivas. Ninguém olhava à sua volta, ninguém já ouvia nada que não fossem os ponteiros do relógio e a sua própria vontade. Por cima de tudo isto, um fantástico pôr-do-sol, indiferente à correria da cidade, proporcionava um espectáculo gratuito para todos aqueles que conseguiam erguer a cabeça acima dos seus próprios problemas, e que procuravam uma fuga momentânea ao ritmo vertiginoso imposto pela sociedade. Nas suas complicadas engrenagens, mais um dia na grande cidade chegava ao fim. Dentro de poucas horas tudo recomeçaria com um vigor renascido, após uma noite regeneradora. Hoje, como no dia seguinte, tal e qual como no dia anterior...
Pura e simplesmente não acreditava que não conseguia saír de casa. Parecía-me impossível que a minha vida, ou pelo menos o meu poder de decisão sobre o seu rumo, tivesse acabado alí. De um momento para o outro, todas as minhas expectativas de futuro, todas as minhas ambições e todos os meus sonhos se estilhaçaram no chão, bem em frente aos meus olhos. Eu estava consciente, talvez de mais, e a dor de perceber o que se estava a passar comigo era insuportável. Mas o pior era a raiva que sentia de mim própria. Como é que eu não conseguia superar tudo aquilo? Como? Sentia-me um autêntico farrapo humano, uma miserável, e sobretudo sentia que não merecia nada do que de bom a vida me oferecia. Estava tudo ao alcance de um braço, e eu não conseguia agarrar nada. Assistia à vida no mundo através do écrã da televisão, e via em mim uma completa inútil.
Depois chegaram os medicamentos. Sono, sono, sono... E com ele, a visão do mundo através de umas pálpebras semicerradas.
Durante anos tentei esconder dos outros (mas sobretudo de mim), os medos que me atormentavam. Eu própria os achava descabidos e indignos de uma pessoa como eu, e pura e simplesmente não acreditava ser possível que eles estivessem a crescer ao ritmo vertiginoso com que sentia que isso estava a acontecer. A verdade é que aos poucos fui ficando amarrada de pernas e braços, e comecei a fugir de situações que me começaram a parecer assustadoras, embora racionalmente eu soubesse que o não eram. Simplesmente o medo tornava-se tão forte, que nenhum argumento que eu evocasse para me acalmar, resultava. Sabia apenas que aquele polvo que me estava a envolver crescia a um ritmo vertiginoso, e foi com um esforço sobre-humano que consegui terminar o ensino secundário. Infelizmente, o esforço não foi recompensado. Não entrei no curso dos meus sonhos por uma décima. Foi então que perdi as forças que me restavam, e deixei que o polvo me envolvesse por completo. Dois meses mais tarde soube finalmente o porquê. Eu sofria de Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
Imagem retirada da net
No seu livro As velas ardem até ao fim, o escritor húngaro Sándor Márai levanta uma questão pertinente: quando amamos alguém, será que gostamos realmente da pessoa, ou pelo contrário, aquilo de que de facto gostamos é do sentimento que ela desperta em nós?
Dá que pensar...
Foto de millencolin -fotos.sapo.pt
Uma luz brilhante de manhã primaveril penetrava pela janela do quarto. Enquanto me espreguiçava, esbocei um sorriso: "Hoje tudo me vai correr bem"- pensei eu. Ao saír de casa, quando o calor do dia me abraçou, senti que tinha tudo para ser feliz. Então avancei, confiante, enquanto a luz quente e reconfortante me abraçava, a mim e ao mundo, num dia que prometia apaziguar espíritos perturbados, estimular ideias e alimentar grandes sonhos
O ano que passou foi sem sombra de dúvidas o mais complicado da minha vida. Vivi situações que nem nos meus piores pesadelos sonhei viver. Nada à minha volta tinha mudado (pelo menos nada que justificasse o inferno em que se tinham transformado os meus dias), isto porque os fantasmas que me assombravam vinham de dentro de mim, e não de fora.
Em pleno processo de exorcisão destes fantasmas, com uma denominação específica no léxico da psiquiatria, inicio este blog. Não sei que rumo ele vai tomar, nem tão pouco sei se o vou conseguir manter por muito tempo. Sei apenas que alterei o meu conceito de "loucura" quando dei por mim, pela primeira vez na minha vida, numa urgência psiquiátrica às 4 da madrugada...
Há algumas semanas, em plena chuvosa tarde lisboeta, assisti de dentro do autocarro a uma situação no mínimo curiosa: um homem apressado, de fato, gravata e pasta na mão, tropeçou num mendigo sentado no chão, fazendo-o caír dentro de uma poça de água. Então, e num gesto inusitado, estendeu a mão (não de forma reticente, mas decididamente e com firmeza) em direcção a este, para ajudá-lo a erguer-se. Perante a recusa do mendigo em aceitar a ajuda (talvez constrangido pela súbita percepção de que alguém percebeu a sua existência), a mão permaneceu estendida durante alguns segundo. Uma imagem carregada de simbolismo, de que poucos se terão apercebido. E para quem pensar que tal situação é impensável, eu garanto: aconteceu. Em Lisboa.
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. Epílogo
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