Estive a reler os meus últimos posts, e pareceu-me que são passíveis de transmitir uma imagem um pouco distorcida de mim. Não sou uma pessoa triste, nem me sinto a pessoa mais infeliz do mundo. Sou apenas nostálgica e melancólica por natureza, talvez um pouco por culpa da minha condição de filha única, que me condenou a uma infância solitária, assim como por culpa da doença que tive (e contra a qual ainda luto, felizmente com algum sucesso) e que relatei nos posts iniciais deste blog. Esta combinação de factores faz-me sentir por vezes medo do futuro, noutras medo de perder as pessoas de quem realmente gosto, e por vezes ainda medo da incompreensão, coisa que infelizmente por vezes sinto. Mas isso é outra história...
Enfim, senti-me na obrigação de "iluminar" um pouco a verdade, que me pareceu ligeiramente camuflada.
Bom Feriado.
Quando não se vislumbram guilhotinas no horizonte
Quando o céu é azul e o sol brilha
Quando o cobertor é quente
E o chocolate doce
Somos felizes.
Mas...
Quando lâminas nos cortam dos outros
Mantas escuras cobrem o firmamento
E o cobertor não nos aquece mais
Será que também podemos ser felizes?
Embalada na inércia dos dias, presa a esperanças vãs de esforços recompensados, méritos reconhecidos e sorrisos sinceros, teimo em não ver que os sonhos se derretem no calor das minhas mãos...
Passiva demais...
Tolerante demais...
Resignada demais...
Invisível demais...
Frustrada demais.
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê tudo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis
Regressei, junto com a Primavera.
No interior profundo do nosso país, existem pequenas localidades quase esquecidas.
A aldeia natal dos meus avós é uma delas.
Há apenas alguns anos, comecei a visitá-la com alguma regularidade, e se no início, aquela profunda paz, e o isolamento a que o local está condenado me fascinavam, agora perturbam-me profundamente.
Se bem que não seja uma das aldeias mais despovodas do nosso interior, a maioria dos seus habitantes são pessoas já idosas, e sempre que visito o lugar, mesmo com uma estadia de apenas um ou dois dias, é impossível não ouvir os sinos da igreja a anunciar um funeral, quando não mais.
A minha família sente-se bem naquele sítio, é lá que tem as suas raízes, e não compreende que para mim cada badalada do sino é como um grito de agonia.
Sinto a omnipresença da morte naquele local, como em mais nenhum outro, e se procuro algo alegre, não encontro.
Vou para lá amanhã.
Até ao meu regresso.
Sol.
Parar um pouco e sentir o seu calor a envolver-me, apreciar o conforto e a paz daí resultantes, sentir este imenso abraço da natureza, esvaziar a mente de pensamentos e fruir simplesmente.
Nós somos natureza.
Sentir-nos-íamos bem melhor se nos lembrássemos disso mais vezes.
Como podemos sentir-nos bem, quando somos obrigados a fazer algo que nos exige sacrifício?
Eu tento um local confortável, uma música relaxante, uma chávena de café, mas por vezes é insuficiente. É então que percebo que certas coisas definitivamente não foram feitas para mim, ou que eu não fui feita para elas.
Mas só falta um mês...
Um mês e estou livre deste sacrifício para sempre...
A verdade de um curso não está no que aí se aprende mas no que daí sobeja: o halo que isso transcende e onde podemos achar-nos homens.
Vergílio Ferreira, Aparição
Nada do que aprendemos se revela importante se não o soubermos elevar a uma dimensão humana que emane de nós.
Imagem retirada da net
Um dia decidi: eu ia repetir o exame do ensino secundário, e tentar novamente a minha sorte no ingresso ao ensino superior.
Foram meses de preparação, sobretudo psicológica, uma vez que na época a simples ideia de estar fechada numa sala de aulas era perturbadora. Mas ainda assim não desisti. Eu ia voltar a viver, tinha a certeza.
Nos dias após a incrição no exame, senti que regressava a finalmente a mim própria, depois de meses de astenia.
Tentava não pensar na possibilidade de não ter sorte uma vez mais, não podia imaginar esse cenário.
No dia anterior ao exame, a tensão não me permitiu dormir.
Mas fui.
Fiz.
Meses de espera por um resultado. A minha vida estava novamente em suspenso...
No final, respirei fundo.
A média a rondar os 18 valores tinha sido suficiente.
Agora, custasse o que custasse, eu não ia deixar o pássaro voar.
Ia viver novamente.
E cá estou.
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. Epílogo
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