Os dias sucedem-se e eu persigo-os - por vezes com convicção, outras com resignação. No final, não sobra muito de mim para colocar nesta página em branco. Há momentos em que espero, outros em que desespero, e outros ainda há em que lamento não acreditar num Deus que haja tecido o meu destino à nascença. A crença no inevitável apazigua, e a fé num Deus alivia e dá alento. Infelizmente, eu não possuo nenhuma das duas.
No entretanto vou estando aqui, acolá, ou ainda um pouco mais longe se estiver num dia bom. Posso não me fazer sentir neste blog, mas far-me-ei sentir noutros lugares. Posso ser a rapariga que vos pede licença no autocarro, a que passa por vós de manhã cedo com uma pasta na mão e movimentos apressados, ou ainda a que olha para o abismo enquanto o eléctrico não chega ao destino. Se não eu, será alguém como eu, porque sei que não estou só nesta armadilha que a mente humana por vezes prepara a quem a carrega.
Não vou terminar o blog, nada disso.
Quero apenas poupar-vos de posts onde não trago nada de novo, durante uns tempos.
Espero retornar com histórias boas para vos contar.
Fiquem bem.
Até breve.
Não tive oportunidade de ver este filme no cinema e desde essa altura que aguardava pela sua saída em DVD, ou seja, há mais de um ano. Por tudo o que tinha escutado sobre esta película sentia-me extremamente curiosa. Na semana passada consegui finalmente encontrar o que procurava na secção de novidades de uma loja Fnac, mas como não sou dona do meu próprio tempo, só hoje pude assistir ao DVD. Agora, aproximadamente meia hora depois de este ter acabado, posso dizer com toda a convicção que é um dos melhores filmes a que já assisti até hoje.
Limpo, claro, depurado de artifícios ou excessos, incisivo como uma lâmina, e acima de tudo, fluído e convincente, tem como pano de fundo uma Lisboa subitamente grande demais, cúmplice demais, fria demais.
Por último, este filme possui a característica que mais me apraz em obras de qualidade: é português.
Fico à espera do Óscar.
Há uns tempos formou-se uma equação na minha mente que me esforcei por não resolver. A fórmula era relativamente simples: número de consultas por mês a multiplicar pelos meses há que estas já duram, vezes o custo de cada sessão. É óbvio que quando menos esperava, já o meu cérebro estava a maquinar uma possível solução. Hoje, frente a uma máquina de calcular, caí em tentação. Logo no momento senti que estava a pecar. Depois de consumado o feito, percebi que o pecado fora mais grave do que o imaginado. Equacionei umas vergastadas nas costas como punição, mas rapidamente desisti da ideia. Já estava a pensar noutra coisa. Mais precisamente, nisto:
Conclusões:
Se fosse psicóloga faria tudo para que os meus pacientes nunca se recuperassem;
Sou uma pessoa rentável;
Os meus pais assaltam bancos;
Não tenho juízo;
Não, esqueçam a última linha. Isto eu já sabia.
É de facto muito dinheiro. E na equação não entraram nem a medicação nem as consultas de psiquiatria. Claro que não foi dinheiro jogado no chão, teve e tem bastante retorno, de outra natureza, obviamente. Mas não deixa de ser incómodo não ver fim à vista para esta despesa fixa, e é difícil evitar pensamentos como o primeiro que ironicamente enunciei nas linhas acima.
Será que me compete a mim mais esta preocupação, de tentar discernir onde acaba a terapia e começa a exploração? Será que corro este risco? Penso que não, quero que não, espero que não. Serei ingénua nestas matérias? Sei que sou ingénua no que se refere a dinheiro, mas o pior é que quem me trata sabe disso, tão bem ou melhor do que eu. Aliás, quem me trata sabe tudo acerca de mim, e este medo existe desde o início. Será que em alguns momentos, pela confiança cega que deposito nos meus terapeutas, sou manipulada? Entrego-me plenamente naquelas consultas. Deixo-me levar, porque quero, porque me sabe bem, porque me guiam a isso... E porque quero desesperadamente que me curem, faço tudo, digo tudo.
E tenho medo de que por vezes seja de mais.
Resta-me confiar.
Congratulem-me, vá.
Esta escorpião já está na áurea qualidade vintage . Colheita de 1986. Premium .
De volta à medicação e muito mais calma. Deprimente, não?
Pelas minhas contas, fui fabricada num dia de Carnaval. Só podia dar nisto. Uma verdadeira brincadeira - e de mau gosto ainda por cima.
Pronto, agora sem sarcasmos. Desde que completei duas décadas de vida que todos os dias me olho ao espelho de manhã e tento ver a rapariga cheia de força que gostaria de ser. Gostei do meu aniversário. Gostei de estar com os meus antigos amigos. Soltei umas gargalhadas, lembrei-me de como tudo era bom. Percebi que cada vez os adoro mais, que me sinto bem com eles. Que me dão força. Que me fazem esquecer. Que me fazem sentir amada. Descobri que me sabe bem mandar o trabalho às urtigas de quando em vez. E que dias assim se deveriam repetir constantemente.
A minha adolescência foi encaixotada e guardada para sempre, qual caixa de Pandora. Terá sido boa? Má? Não sei. Sinceramente. Tenho sim, a certeza de que foi diferente. E que não tendo sido a mais infeliz do mundo, poderia ainda assim ter sido muito melhor.
E agora, aguardo, como sempre, por desenvolvimentos nesta minha existência, que me surpreende constantemente, mesmo quando eu acredito já ter perdido a capacidade de me assombrar.
. ...
. Epílogo
. .
. ...