Sexta-feira, 30 de Março de 2007

Extemporaneidade

 

Não gosto da vida em linha recta, sabendo-a paralela a todas as outras. Uma recta imperfeita que não respeita sequer o princípio da infinitude. Fosse eu Deus, e a vida seria uma linha dinâmica, infinitamente oscilatória, repleta de curvas e intersecções.

 

 

Seria possível oscilar-se entre juventude e velhice, inteligência ou ignorância, escolher entre ser-se bondoso ou impiedosamente malévolo. Acordar mulher e no dia seguinte sentir o que sente um homem. 

 

Vou morrer inocente - morreremos todos inocentes. O conhecimento está-nos interdito, na impossibilidade de saborear todas as realidades possíveis.

 

Sentir-me-ia completa se pudesse viver em todas as épocas e experimentar o amanhecer de paisagens distintas... Se me fosse possível formular a teoria da relatividade depois de um dia de esforço e revolucionar o mundo. Se pudesse sentir a face lisa e perfeita de uma Pietá em mármore sob os meus dedos cobertos de pó, sabendo nela criação minha.

Declarar uma guerra e morrer sob o peso do julgamento da história. Espalhar paz e viver na pobreza.

Gritar de dor e morrer de paixão.

Respirar a clausura de um convento.

Escrever uma partitura eterna.

Nascer escrava.

Morrer rainha.

 

 

 

Resta-me  a resignação de possuir uma alma pensante e de saber que a minha história será escrita por mim.

 

publicado por Incógnita às 22:16
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Segunda-feira, 26 de Março de 2007

.

Eu tinha uma caixa cheia perguntas que era muito valiosa, porque o nada ao que parece era muito e tinha força, eu acreditava e levava comigo sempre a caixa embrulhada num cobertor, cumprindo a promessa de não espreitar o nada que estava lá dentro contido e que afinal era muito e explicava muita coisa. Até que o peso da caixa se tornou leveza e eu mostrava mas era segredo meu, e queriam ver, mas eu queixava-me que pesava e diziam-me que era de algodão. E eu rodava com a caixa, mas o que era já não era, e nas mãos segurava um cesto coberto de panos que cheirava a maçãs, e eu dizia que o não eram, mas diziam-me ser um nada que era tudo e que explicava muita coisa. Até que um dia soprou o vento que levantou o cesto e o levou para longe, onde foi cair numa poça vazia mostrando o seu conteúdo ausente desde sempre e que de tão leve foi levado pela ventania mesmo sem ser nem se ver.

publicado por Incógnita às 19:57
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Sexta-feira, 23 de Março de 2007

...

Bato a porta devagar,
Olho só mais uma vez
Como é tão bonita esta avenida...
É o cais. Flor do cais:
Águas mansas e a nudez
Frágil como as asas de uma vida

É o riso, é a lágrima
A expressão incontrolada
Não podia ser de outra maneira
É a sorte, é a sina
Uma mão cheia de nada
E o mundo à cabeceira

Mas nunca
Me esqueci de ti
Não nunca me esqueci de ti
Eu nunca me esqueci de ti
Não nunca me esqueci de ti

Tudo muda, tudo parte
Tudo tem o seu avesso.
Frágil a memória da paixão...
É a lua. Fim da tarde
É a brisa onde adormeço
Quente como a tua mão

Mas nunca
Me esqueci de ti
Não, nunca me esqueci de ti
Não, nunca me esqueci de ti
Eu nunca me esqueci de ti

Nunca me esqueci d ti
Não não não não não nunca me esqueci de ti

Não não não não não não não não
Nunca me esqueci de ti

Não não
Nunca me esqueci de ti...

    

Rui Veloso

publicado por Incógnita às 21:29
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366

Afinal os 365 foram ontem. Hoje já são 366. É hoje que, pela primeira vez, vou colocar um sapinho no meu texto.

Está quase...

1...

2...

 

 

2,5...

 

 

2,75...

 

3!!

 

.

 

Não se vai repetir, prometo.

 

 

publicado por Incógnita às 11:05
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Quarta-feira, 21 de Março de 2007

363 Dias

Faltam dois dias para que este espaço complete um ano de existência, e eu descobri isso agora mesmo por mero acaso.

Chegar a casa e consultar o e-mail, o número de visitas ao blog, bem como os comentários recebidos, tornou-se num hábito confortável. É, aliás, mais do que um hábito: um verdadeiro vício -  dos bons, sem o qual não me consigo já imaginar.

Atrevo-me a acreditar que sou aqui mais genuína do que em qualquer outro lugar ou situação, sobretudo porque não dei a conhecer este blog a ninguém com quem me relaciono. Todos ficaram de fora.

Desta forma encontrei um exercício de liberdade e introspecção que nunca tinha experimentado na minha vida. É diferente... De tudo.

Escrevo de mim para mim - quantas vezes não me acontece começar a rabiscar umas linhas que depois decido não publicar por perceber que não fariam sentido para quem as lesse... E é igualmente frequente dar por mim a reparar no tempo que algumas pessoas dispensam para ler estas páginas e pensar: será que mereço?

Sinto-me uma privilegiada por vos ter desse lado.

Lamechice?

O tanas.

publicado por Incógnita às 20:27
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21 de Março

Está oficialmente inaugurada a época das flores, dos passarinhos, da procriação, dos pólenes, dos espirros, das alergias, da comichão e da febre da carraça.

Por outro lado, é sabido que a radiação solar faz aumentar a produção de serotonina no cérebro.

E é isto.

publicado por Incógnita às 16:36
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Sábado, 17 de Março de 2007

...

Sabem aquela sensação...

Aquela.

A súbita sensação de sermos ingénuos e despreparados.

Aquela que nos vira para dentro e que nos faz sentir pequenos.

Quando imaginamos a vida como uma engrenagem de peças, e de repente percebemos um novo elemento, que apesar de sempre ter estado presente, era invisível para os nossos olhos. Gostamos de nos imaginar donos de maturidade suficiente para enfrentar tudo com naturalidade, mas não somos coisa nenhuma. Fingimos. Nada é o que parece, nem nada é garantido. A verdade é que o Sol pode não nascer amanhã, ou nascendo, pode surgir verde em vez de amarelo.

Gostamos de acreditar na estabilidade da certeza. Precisamos.

Nada como um dia depois de uma noite, um Sol que gira em torno da Terra, um Deus que nos criou. Gostamos de coisas óbvias, simples e que saciem a inquietação, mesmo que na mentira.

É isso.

Ou então não é nada.

publicado por Incógnita às 21:54
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...

Quando o trabalho aperta, sonho com momentos de pausa.

Quando uns escassos minutos de faire niente se instalam, pergunto-me que raio de vida é esta.

Parece que só corro atrás de vento, ou o raio que o parta.

A areia é desconfortável, mas ainda assim continua a ser o melhor lugar onde enfiar a cabeça.

publicado por Incógnita às 19:24
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Domingo, 11 de Março de 2007

Dias não

Eu sei que este post chega atrasado, mas isso não significa que este seja para mim um tema de pouca importância.

Temos então (entre outros):

Dia Mundial do Braille

Dia Mundial da Liberdade

Dia Mundial das zonas húmidas

Dia Mundial do Doente

Dia Mundial dos Direitos do Consumidor

Dia Mundial da Meteorologia

Dia Mundial da Tuberculose

Dia Mundial dos Animais

Dia Internacional dos Deficientes

E há pouco tempo um partido político sugeriu a criação do dia nacional do cão.

 

Na verdade, nunca me senti discriminada ao longo da vida por ser mulher, nunca fui diferenciada, nunca me percebi menos digna ou inferior. Nunca encarei a humanidade como o somatório de duas partes distintas. Nunca, exceptuando uma data específica: o dia internacional da mulher, que em teimosia se repete todos os anos.

Porque neste dia insistem em oferecer-me folhetos com os meus direitos, como se eu pertencesse a uma classe recentemente promovida a um estatuto digno, que deve estar grata e baixar a cabeça em sinal de agradecimento sempre que se cruza com um homem.

Porque durante este dia eu me sinto como se o facto de eu poder viver livremente fosse possível apenas graças à boa vontade alheia.

Porque este dia serve para encher o ego masculino.

Porque é o dia da caridadezinha para com as senhoras, que coitadinhas, são tão bonitinhas e dão tanta corzinha ao mundo e são tão mal tratadinhas.

Porque os dias internacionais são úteis para lembrar causas importantes a quem detém o poder, e pelos vistos, as mulheres ainda não chegaram lá.

Porque em cada panfleto que me entregam, existe um desdobrável que me diz: sê humilde com quem te estende a mão.

Eu tenho asco ao dia da mulher, a quem o aplaude e às infelizes meninas e senhoras que o celebram.

O dia em que nos colocam ao nível de um cão e de uma bactéria que causa tuberculose.

publicado por Incógnita às 17:32
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Sexta-feira, 9 de Março de 2007

Isto é o título

Mas isto não é um texto.

Bom fim de semana.

publicado por Incógnita às 21:51
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Obstinada em encontrar-se... Dentro de si própria.

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