[...] Portugal já ratificou o acordo, mas ainda falta ratificar o protocolo modificativo. Segundo especialistas, as modificações propostas no acordo devem alterar 1,6 por cento do vocabulário de Portugal. Os portugueses deixarão de escrever «húmido » para usar a nova ortografia - úmido ». Desaparecem também da língua escrita em Portugal o «c» e o «p» nas palavras onde estas letras não são pronunciadas, como em «acção», «acto», «baptismo», «óptimo». No Brasil, a mudança será menor, já que apenas 0,45 por cento das palavras terão a escrita alterada [...]
Excerto retirado daqui.
Eu sei que provavelmente é um argumento falível e que existência de um acordo até poderá ser benéfica, mas é-me inconcebível que num acordo internacional os países que adoptam a língua sejam os que definem as regras. Podem chamar-lhe um patriotismo infundado, ou um nacionalismo demasiado exacerbado, mas somos ridículos. Forjámos um belíssimo idioma e devíamos defendê-lo com um pouco mais de convicção. Os brasileiros odeiam o português e adoptam estrangeirismos como que se tenta aos poucos libertar de uma maldição. Já tive oportunidade de ler vários elogios brasileiros à língua portuguesa, sendo o mais comum "ridícula". A maioria destas alterações produz mudanças na pronúncia das palavras, ao contrário do que a notícia afirma, nomeadamente ao nível das suas sílabas tónicas e átonas. Estas regras existem com uma finalidade. Se os brasileiros decidiram há já bastante tempo descartá-las, nós não somos obrigados a seguir a sua opção.
Tudo se pode fazer com moderação, incluindo ser intransigente e teimoso de vez em quando.
Direita, queixo erguido e olhos fixos no horizonte, tentando disfarçar o orgulho ferido numa postura firme e num olhar distante. Na verdade, o comboio há muito que já tinha ido e a gare repousava, num silêncio cúmplice para com quem partira. Não fosse esse detalhe, essa ligeira desadequação entre atitude e momento, e teria sucedido na tentativa de demonstrar domínio sobre a situação.
Passos demasiado apressados levaram-na até ao carro. A postura antes firme era agora rígida, e por isso o equilíbrio mais precário. Um ligeiro estremecimento no andar e uma breve desorientação estrearam-se em si. Uma inalação profunda, um cigarro lento, uma carícia de fumo, e rodou a chave. De vidros excepcionalmente abertos, não fosse na sua bolha hermética esquecer-se do caminho até casa.
Sei bem como é a queimadura de fogo brando. Quando se pressente já a pele ardeu demais. Dói antes mesmo de saberes porquê. Ficas ressequido, quebradiço. Sentes sede enquanto bebes, submerges numa ebulição febril e ofegante em que te desfazes; ferves dentro e fora. Por fim, basta uma suave brisa do entardecer para espalhar e varrer para a longe a areia fina em que te tornaste.
Sei.
Sei muito bem o que isso é.
Mas vale a pena experimentar:
Em Janeiro de 2007 surgiu a teoria de que quando a cor predominante dos nossos écrans de computador é o preto ao invés do tradicional branco, poupamos energia. Alguns cálculos depois, e concluiu-se que devido à grande popularidade do Google em todo o mundo, se o fundo da sua página fosse negro, a quantidade de energia economizada à escala mundial poderia ser já bastante considerável.
Vai daí, o Google decidiu criar uma alternativa de fundo preto para quem estiver disposto a aderir.
Eu tentei, e por mim, tudo bem. Experimentem agora também vocês em http://www.blackle.com
Se resultar, não vejo porque não. Pela minha parte, está aprovado, assim como todas as tentativas para conter o consumo de energia enquanto esta depender maioritariamente dos combustíveis fósseis. Pelo menos, por nos lembrar que é importante agir.
Porque têm mais autonomia do que a que lhes pretendemos atribuir.
A partir de hoje, já não garanto que estas linhas me sejam fiéis.
E é tão enfadonho discutir quando estamos cansados. Os argumentos do outro não nos ferem, somente o seu barulho incomoda e aborrece. Quero silêncio, por favor. Deixem-me respirar a serenidade do dever cumprido com esforço.
A existência de algumas pessoas transformou-se em mero ruído de fundo. Incómodo, mas apenas ruído. Ando cansada. Não sei ao certo de quê, mas cansada.
Shhhh ...
Em pequena registava os acontecimentos mais marcantes da minha vida num diário. Coisas da maior importância, tais como as visitas de estudo a Lisboa, a pessoa com que iria de mão dada, as zangas com os colegas, os enjoos nas viagens de carro, as desilusões com a programação televisiva, os amuos com os pais, as infindáveis amigdalites e consequentes faltas à escola, a frustração por não ter irmãos, a alegria do arranque do último dente de leite, a aventura da abertura de presentes no Natal, a alegria de crescer alguns centímetros e a coragem de aceitar um aparelho nos dentes, que me fez escutar durante 4 anos: "estás horrível!", sem perder o ânimo.
Tantos anos depois, só a minha necessidade de protagonismo é que mudou - agora tenho um diário que pode ser encontrado no Google.
Que vou poder encher sacos e sacos de dias livres e tempos mortos. Se alguém tiver outro produto de tal forma excedente, eu estou disposta a negociar uma troca justa.
Até lá, ajustes finais e retoques para parecer bem na fotografia. E nunca mais serei capaz de cruzar a 24 de Julho com os mesmos olhos. Quem sabe um dia o exercício se torne obra efectiva. Quem sabe, um dia...
Quando nasceu, ao invés da tradicional palmada no rabo para chorar, recebeu cócegas nos pés e um Visa Gold vitalício.
O meu lugar na minha casa, na minha família, e a responsabilidade pela manutenção deste blog.
Contrapartidas financeiras: o meu porquinho mealheiro está guardado na cesta da roupa suja.
Pronto. Então se está tudo acertado, vou indo.
P.S.: as chaves ficam debaixo do tapete. Tratem os meus pais por papá e mamã, e não se esqueçam: quem é da família toca sempre duas vezes.
Enquanto mergulhava os dedos na parafina líquida senti-te chegar. Certamente estavas lá. Certamente. Não te vi, mas que tem isso? Ninguém se resume a percepções. Os olhos podem mentir. Os sentidos falham. Acreditando neles, tu não existirias. Tolice, pois então. Tu existes, como tão bem eu o sei. Como poderia eu duvidar de ti? Não te rias. São os meus limites naturais. O mundo existe quando eu durmo, e não o sinto. A vida corre, mesmo quando me encerro entre quatro paredes e não assisto. Foi assim que te conheci. Estiveste sempre presente. Tonta. Achas-me tonta por não te ter percebido logo. Concordo. Mas agora sei-te, e isso é tudo. Só peço que não te diluas no tempo. Não agora. Não agora que me fazes tanta companhia e teces a lógica da vida diante de mim. Os sentidos falham. Eu sei. Tu também sabes. A comunicação piora consideravelmente desta forma. Por vezes sinto que te perco. Não te vejo, não te sinto, não te escuto, não te sinto o cheiro, nem o sabor da tua presença. Mas eu não me deixo viciar pelo engenho dos saberes científicos. A ciência limita, e eu prefiro ser livre. Os outros exigem provas. Não as tenho. E isso não me preocupa. Assim garanto-me única. Sou possessiva, mas gosto de dormir descansada. Agora dá-me um minuto, por favor. A parafina já secou - está a partir-se e a sujar o chão. A gordura não sai facilmente dos mosaicos porosos. Coisas prosaicas. Não te preocupes, eu limpo. Sei que os sentidos falham, mas preciso tirar estas manchas perturbadoras do meu campo visual. Sou sensível, sabes? Posso suprimir a resposta aos estímulos, mas nunca os poderei renegar completamente. Posso não abrir a porta, mas não posso impedir que o toque da campainha me acorde no meio da noite.
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. Epílogo
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