Há uns tempos formou-se uma equação na minha mente que me esforcei por não resolver. A fórmula era relativamente simples: número de consultas por mês a multiplicar pelos meses há que estas já duram, vezes o custo de cada sessão. É óbvio que quando menos esperava, já o meu cérebro estava a maquinar uma possível solução. Hoje, frente a uma máquina de calcular, caí em tentação. Logo no momento senti que estava a pecar. Depois de consumado o feito, percebi que o pecado fora mais grave do que o imaginado. Equacionei umas vergastadas nas costas como punição, mas rapidamente desisti da ideia. Já estava a pensar noutra coisa. Mais precisamente, nisto:
Conclusões:
Se fosse psicóloga faria tudo para que os meus pacientes nunca se recuperassem;
Sou uma pessoa rentável;
Os meus pais assaltam bancos;
Não tenho juízo;
Não, esqueçam a última linha. Isto eu já sabia.
É de facto muito dinheiro. E na equação não entraram nem a medicação nem as consultas de psiquiatria. Claro que não foi dinheiro jogado no chão, teve e tem bastante retorno, de outra natureza, obviamente. Mas não deixa de ser incómodo não ver fim à vista para esta despesa fixa, e é difícil evitar pensamentos como o primeiro que ironicamente enunciei nas linhas acima.
Será que me compete a mim mais esta preocupação, de tentar discernir onde acaba a terapia e começa a exploração? Será que corro este risco? Penso que não, quero que não, espero que não. Serei ingénua nestas matérias? Sei que sou ingénua no que se refere a dinheiro, mas o pior é que quem me trata sabe disso, tão bem ou melhor do que eu. Aliás, quem me trata sabe tudo acerca de mim, e este medo existe desde o início. Será que em alguns momentos, pela confiança cega que deposito nos meus terapeutas, sou manipulada? Entrego-me plenamente naquelas consultas. Deixo-me levar, porque quero, porque me sabe bem, porque me guiam a isso... E porque quero desesperadamente que me curem, faço tudo, digo tudo.
E tenho medo de que por vezes seja de mais.
Resta-me confiar.
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. Epílogo
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