Tentei fazer um esforço para não abordar este tema aqui no blog, mas não consegui. É demasiado revoltante para me conseguir conter. Aliás, não se trata apenas de não conseguir - trata-se de não querer.
Eu estou incrédula com o que se passa neste país.
Uma criança actualmente com cinco anos, foi entregue a um casal de acolhimento com poucos meses de vida. Agora, cinco anos passados, o pai biológico percebeu que ter um filho até é coisa para ter a sua piada, e reclama a custódia da criança. Mais: ele pretende que a menina quebre drasticamente os laços com a família que a acolheu e que lhe seja entregue para nunca mais a ver. Resta ainda acrescentar que a criança não o conhece sequer. Agora, o escandaloso: o tribunal deu-lhe razão. O pai adoptivo tentou fugir com a filha para evitar este trauma na menor e está preso neste momento.
Já não é a primeira vez que isto acontece - é comum que neste país, ao fim de alguns anos passados em famílias de acolhimento, crianças adoptadas lhes sejam retiradas repentinamente por um qualquer motivo fútil que o tribunal lá saberá.
Mas que falta de respeito é esta para com as nossas crianças?
Não são apenas os enforcamentos de prisioneiros que devem ser considerados actos bárbaros. Isto que se passa com as crianças portuguesas também é inademissível: provoca-lhes um sofrimento atroz, causando sequelas graves a nível psicológico que podem perdurar para o resto da vida, comprometendo-lhes um crescimento saudável, equilibrado, e acima de tudo, feliz.
Para todos os efeitos, e aos olhos destas crianças, os pais são os pais. Não lhes faz a menor diferença nesta idade que o sejam adoptivos ou biológicos. E o que se passa é cruel. Muito cruel. Estas crianças precisam de ser defendidas de uma justiça que as olha como uma qualquer mercadoria que muda de dono conforme decisão sua, sem levar em conta os interesses e vontades dos menores.
Curiosamente, isto passa-se a um mês do referendo ao aborto.
Existem, por acaso condições neste país para proteger as crianças abandonadas pelos pais biológicos?
Não me parece.
Aos que têm a sorte de ser recebidos de braços abertos por uma família disposta a amá-los, acontece isto.
Já os que ficam aos cuidados de instituições, têm fortes probabilidades de que loucos se cruzem nos seus caminhos.
Neste momento sinto vergonha do meu país.
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. Epílogo
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