Estou sozinha em casa, e sei que a noite se vai prolongar. Há uma pilha de livros ao lado do teclado à espera que eu lhes despeje os olhos e alguma atenção por cima. Ás vezes tenho a sensação de que nem sei porque o faço. Talvez seja apenas a força do hábito, incrustado por tantos anos disto, tanta infância passada nas mesas da escola, ainda mesmo antes de saber quem era ou ao que vinha.
É que nunca me aconteceu o que me acontece ultimamente. Dar por mim a observar as pessoas que passam na rua enquanto eu estudo, e interrogar-me sobre o que farão. Fixar o olhar em quem toma um café descontraidamente numa esplanada, enquanto eu vou ou volto da faculdade com uma terrível dor de cabeça.
Na verdade, o que sinto é que não construí uma história minha. Estudar é como viver em incubação, e dou-me conta disso agora.
A minha história consiste no que vivi nos intervalos entre aulas, no que senti em visitas de estudo ou no que experimentei numas curtas férias entre testes e exames. E já não me apetece. Quero ser eu a ditar a minha própria história, o meu ritmo, o capítulo que se segue.
Mal posso esperar pelo momento em que poderei agarrar na bagagem que consegui recolher em todos estes anos, e começar finalmente a escrever os meus dias.
Falta pouco.
Até lá, a constante de Euler, as regras de derivação, primitivação e o cálculo integral vão ter de continuar a aturar-me.
Pelo menos a contar a partir de agora, e até ao nascer do sol de amanhã.
O bairro pode dormir descansado, porque eu vou estar aqui a guardar o seu sono.
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. Epílogo
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