Por mais que tente, não consigo encontrar prazer semelhante ao de entrar numa livraria e, em silêncio, como num sinal de respeito para com os seus tesouros, perscrutar todas as suas estantes, observar atentamente todas as lombadas, todos os títulos, apreciar o odor do papel novo, e sentir o pulsar de cada livro nas minhas mãos. Por detrás de cada palavra, de cada linha escrita existe um mundo que se desenrola numa dimensão paralela àquela que conhecemos, e a que o seu autor nos concede gentilmente o previlégio de entrar.
Abrir um livro e ler a primeira linha, saltar para a segunda, correr para a terceira, e voar pelas restantes até não restarem mais linhas, nem mais palavras, nem mais páginas para folhear, e os meus olhos doerem... Ler tudo num só fôlego, entregar-me a uma realidade que não é a minha, deixar por momentos o meu corpo e elevar a alma em direcção ao desconhecido. Estar em lugares que não existem, escutar sons que nunca se propagaram, conhecer almas, que tal como espectros, conseguem viver sem corpo e resistir no tempo...
Se algum dia porventura enlouquecer, é porque a minha mente ficou presa num livro que se fechou para não mais me deixar saír.
Vou estar lá dentro, a voar...
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. Epílogo
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